Talvez influenciada pelo curso de ética que fiz recentemente, esta semana volto a trazer um par de livros que faz perguntas e procura respostas. O tema é nada mais nada menos do que a Humanidade.
Um, de abordagem científica, mas estruturado em diálogo do tipo filosófico; o outro, em modo compêndio sobre humanos, e elaborado por extraterrestres.
A Terra e os terráqueos — modo de funcionamento, instruções de montagem.
Não sei se no meio de tanta IA, ciência e sabedoria, existe um medidor de curiosidade. Mas, enquanto ser humano educador, o gráfico que forneceria hoje à expedição intergalática sobre a curiosidade na adolescência seria uma linha em progressão descendente.
Identifico três razões, para além dos clássicos espírito do contra e dolência:
1. As respostas a todas as perguntas, a solução para todos os problemas, parecem estar (enganosamente) facilmente acessíveis à distancia de um clique e dois scroles. Basta querer saber. Mas querer saber para quê?
2. O futuro está mais embaciado do que nunca. Embora tudo continue a acelerar exponencialmente, dizem-lhes que os trabalhos que irão fazer no futuro ainda não existem. Trabalhar em quê e para quê?
3. Há (tem de haver) um desencantamento com o rumo do mundo. Muitas das coisas (basilares) que tomavam como certas e seguras (como nós tomámos) têm-se desmoronado a cada dia, à frente dos seus e nossos olhos. O que aconteceu ao "Nunca mais"?
Talvez o que mais perturbe este ser-humano-educador seja o facto de ser adulto hoje. E de viver mais perplexo do que sábio. E foi por isso que achei tão bonito que um livro fosse construído em torno das perguntas — não de uma criança — mas de um, uma, adolescente.
Neste Toda a ciência em três grandes perguntas, fazem-se muito mais do que três perguntas, porque as perguntas são como as cerejas: umas são mais doces outras mais amargas, mas, atrás de uma, vem sempre outra agarrada.
O texto parte da curiosidade infinita de uma jovem criatura humana que pergunta (e muitas vezes diz que não percebe, o que leva a mais perguntas). Através do seu diálogo com alguns cientistas, vamos tentando perceber como é que tudo isto aconteceu e porquê, de que são feitas as coisas e o que é a vida.
As ilustrações variam entre BD e emocionantes telas (que gostaria de ver, gigantes, numa parede), passando por esquemas científicos ou imagens que contam. E contam muito.
Em Terráqueos, o segredos da terra revelados por extraterrestres, através da lente fresca de uma lupa científico-sociológica, é-nos apresentado um relatório (bastante bem humorado) com informações sobre a vida na Terra, realizado através de dados fornecidos galaticamente pelos próprios humanos: sobre o planeta (estrutura, componentes, anatomia, resiliência) e os seu habitantes (peso, relacionamentos, comunicação, pelos).
Vermelho, amarelo e azul são suficientes (com o branco e o preto e o verde que aparece da mistura) para estes cientistas extraterrestres elaborarem o compêndio visual da vida na Terra.
Em Terráqueos, a leitura é descrita como uma atividade "silenciosa e solitária".
Os livros mantêm o lado heróico da resistência humana. E continuam a ser poderosíssimos objetos potenciadores de curiosidade e de sabedoria.
São dois livros para ir buscar à Feira, levar na mala nos feriados ou nas férias e ler com o tempo e a atenção que merecem — e que andam tão perdidos por aí.
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Planeta Tangerina, 2025
Philipe Ball texto, Bernardo Carvalho ilustrações
isbn 9789899061293
Lilliput, 2024
Ewa Solarz texto, Robert Czajka ilustrações
isbn 9789895831029
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