Há uns dias chegou este O mundo cá dentro que é sobre o mundo, lá fora. Fala da relação quebrada que temos com a Terra. De como nos protegemos dela em vez de nos embrenharmos nela. O título em inglês, Outside in, "Lá fora, cá dentro", é mais certeiro para ente banho de mundo, de natureza, que são estas páginas.
Andei a fazer bombas de sementes a convite da Formiga Atómica, na sexta vamos ao Lu.Ca ver como anda O Estado do Mundo e um dia destes levei o R ao Jardim Botânico. Tudo enquanto acontece a COP26.
O R era muito pequeno, da última vez que tinha estado no Jardim e, depois das obras, ainda não tínhamos regressado. Apesar de haver algumas alterações, como o anfiteatro e pelo menos uma árvore nova, o Jardim continua com o ar abandonado que sempre teve desde que o conheço.
E depois da tempestade, talvez estivesse ainda pior — ou melhor. Na mesma lindíssimo: uma espécie de oásis no centro da cidade, onde é fácil esquecer que a cidade fica mesmo ali, atrás do muro.
Perante o meu comentário sobre o desmazelo, o R argumentou que aquilo era um jardim botânico, não um jardim do palácio de um rei e que era bom que tivesse um ar selvagem.
Tínhamos saído apesar da chuva, para matar saudades do verde, da terra, do mistério.
![](https://1.bp.blogspot.com/-AczZjmFcSmI/YYpeg-6zzpI/AAAAAAAAPdA/--C4O8ZnGXMY_YoudV1QPhfhpLE2TrqEwCLcBGAsYHQ/w640-h480/IMG_6473.jpg)
Fizemos máscaras com as folhas de cicas que estavam caídas pelo chão, treinámos baseball com sementes e ramos, trouxemos algumas preciosidades nos bolsos e nas mãos: chicotes, folhas-leque do ginko gigante, um fruto — que, já em casa concluímos ser um maracujá-laranja. Fez sumo com ele e guardou-o num frasco. Quando lhe disse que aquilo ia ganhar fungos, os olhos brilharam-lhe de satisfação. É que tínhamos acabado de ver o Fungos fantásticos.
![](https://1.bp.blogspot.com/-_lTMXcIdc50/YYpega0KIHI/AAAAAAAAPc8/SbnoXJxg-pQmlqlbxNmIaFTnA8T3bMr7QCLcBGAsYHQ/w640-h480/IMG_6472.jpg)
O outro documentário do fim-de-semana chuvoso tinha sido A terra no limite. O R é o mais novo da casa e fica naturalmente aflito com o estado do mundo, a narração e a visualização da destruição da Terra, nas suas múltiplas dimensões. Ainda bem.
Como continua a reclamar sempre que vamos a pé a algum lado, aproveitei para o lembrar de não fazer cara feia nessas ocasiões. E acho que, no dia seguinte, foi o primeiro dia em que não se queixou de ter regressado de metro da escola.
No blogue da Hipopótamos na lua descobri como é que Cindy Derby fez as aguarelas deste livro: "(...) juntou-lhe a grafite em pó sobre papel prensado a frio e utilizou hastes de flores secas e fio embebido em tinta." Esteve a brincar.
Não saberia dizer como conseguiu ela este efeito. Mas parece mesmo que esteve connosco no Jardim Botânico a recolher preciosidades e que, como o R, quer deixar o mundo ser selvagem à vontade. Oxalá vamos a tempo. É tão bonito.
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Orfeu Mini, 2021
Cindy Derby
isbn 9789899071087
Belíssimas observações. Deu vontade de visitar o Jardim Botânico também.
ResponderEliminarGrande jardim!
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